Leitura de Hatoum e Cabral por Djalma Jacobina Neto

No conto “um oriental na vastidão”, de Miltom Hatoum, e no poema “uma faca só lâmina”, de João Cabral de M. Neto.

Um japonês culto e misterioso, que já havia encontrado boa parte do mundo, conhecido e conhecível pelo saber formal, buscava outro, o seu. Uma faca só lâmina, útil e inútil, estruturante do corpo, pois que intestina, e desestruturante, pois que lacera. O oriental acadêmico que sabe tudo e busca algo inalcançável ao saber e ao dizer. A faca estruturante que não se deixa alcançar.

Há entre o conto de Hatoum e o poema de Cabral, pontos que externam atributos da linguagem poética; que mostram a ação libertadora dessa linguagem pela indefinição do objeto, pela interação entre a subjetividade e a objetividade, pelos objetivos passíveis de aproximação, mas não de apreensão. É a expressão da linguagem da carência, da leitura da incompletude tão própria do ser humano. Ambos retratam uma dialética de aproximação a um objeto cuja própria natureza recusa apreensão.

Em ambos, há o deslocamento do foco, normalmente centrado na busca do sentido do texto, para um lugar outro, misterioso e inalcançável, por isso infenso a domínios. Há uma fuga do campo da teoria, delimitado, dominado, pretensioso; para o campo do incerto, do mutável, em que o valor do sentido do texto, calcado na palavra instrumento de representação, é substituído pelo valor da palavra arte ela mesma, com sua própria plasticidade.


*Djalma Jaconina Neto é aluno da graduação em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia. Disciplina LET B 92 - QUESTÕES TEÓRICAS DA CONTEMPORANEIDADE.

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